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Pontos de vista

Pontos de vista

22
Mai23

O indizível no atentado contra John Kennedy

por Rosa Pinho

José da Praia

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Kennedy momentos antes de ser assassinado em Dallas  

FOTO WALT CISCO/THE DALLAS MORNING NEWS

Há umas semanas, numa análise na televisão sobre a guerra na Ucrânia, o major general Carlos Branco interrogou-se sobre a influência que a campanha eleitoral para a presidência dos Estados Unidos teria naquela calamitosa guerra. O bem informado autor do livro "A Guerra nos Balcãs" "Jihadismo, Geopolítica e Desinformação." "Vivências de um Oficial do Exército Português ao Serviço da ONU" fez então uma alusão a um candidato concorrente às eleições primárias do Partido Democrata dos EUA, o Sr. Robert Kennedy Jr.

Leu-se agora que esse candidato, sobrinho do malogrado presidente dos EUA assassinado em Dallas em 22 de Novembro de 1963, interrogado em entrevista no dia 6 deste mês de Maio sobre o magnicídio de John Fitzgerald Kennedy (JFK), implicou uma organização estadual norte-americana no crime e remeteu os ouvintes para o livro de James W. Douglass, “JFK and the unspeakable” (“JFK e o indizível”) [1].

JFK-and-the-Unspeakable.jpg

As condições em que foi assassinado o presidente dos EUA são um mistério há muitas décadas. A investigação oficial da Comissão Warren sobre o atentado não tem credibilidade, sendo rejeitada, segundo os inquéritos de opinião, por três em quatro americanos. Formularam-se várias teorias sobre o atentado.

 

Em Espanha, por exemplo, o escritor e jornalista Javier García Sánchez publicou o ensaio “Teoría de la conspiración. Deconstruyendo un magnicidio: Dallas 22/11/63” (2017) onde justifica a inverosimilhança do atirador solitário Lee Harvey Oswald. Concluiu que se tratou de um “golpe de Estado ao serviço do lóbi das armas e de setores da direita americana, ligado à guerra do Vietname e ao conflito com Cuba, com colaboração da CIA, do FBI e da Máfia”. “Nixon sabia que JFK não ia sair vivo de Dallas, porque até já tinham tentado uns meses antes em Chicago”, afirma o escritor, para quem também Lyndon Johnson, sucessor de Kennedy, terá estado envolvido no atentado. Oswald foi morto por Jack Ruby (“gerente de boates da noite, cujas relações com a mafia local e a CIA são conhecidas” – escreve James Douglass), com um disparo à queima-roupa, 48 horas depois do assassínio de JFK, “rodeado de 70 polícias”. Para García, o crime de Dallas insere-se numa série de assassínios e golpes de Estado que Washington terá patrocinado [2].

 

O realizador de cinema Oliver Stone dirigiu sobre o tema o filme “JFK” (1991). “Ao longo do filme é mostrado, por diversas vezes, o vídeo amador feito por Abraham Zapruder que mostra o presidente John F. Kennedy sendo atingido pelos tiros disparados contra ele” [3]. “Abraham Zapruder (1905-1970), proprietário de uma oficina de confeção de roupas femininas, “ao filmar a passagem de John F. Kennedy pela Dealey Plaza em DallasTexas, no dia 22 de novembro de 1963, acabou por registrar inesperadamente o assassinato do presidente estadunidense. O filme de Zapruder tornou-se célebre por ser o registro mais completo do crime.” [4]

O “Diário de Notícias” informava em 27 de outubro de 2017 que “O presidente Donald Trump autorizou a divulgação de 2800 dos cerca de 3100 documentos ainda em segredo relacionados com o assassínio de J. F. Kennedy em Dallas a 22 de novembro de 1963.” (…) “A pressão para estes [documentos] não serem divulgados terá partido da CIA e do FBI, agências na origem da maioria dos documentos que faltavam divulgar.” (…) “Vários elementos republicanos nas duas Câmaras do Congresso defenderam a necessidade, "após 54 anos, que os factos relativos à morte de JFK não sejam totalmente conhecidos do público", disse Walter B. Jones, ao apresentar no início do mês de outubro na Câmara dos Representantes uma proposta legislativa a autorizar a publicação sem restrições dos 3100 documentos.” [5]

O jornal digital espanhol “Público” divulgava em 03/11/2017 que “os documentos recém-desclassificados sobre o assassinato do Presidente norte-americano J. F. Kennedy revelam muitos dos planos da CIA contra Cuba.” (…) Um dos documentos desclassificados na totalidade, explica que a CIA planeou sabotar a produção agrícola cubana “mediante a introdução de agentes biológicos que pareçam ser de origem natural”. “Em Janeiro de 1977, The Washington Post publicou as confissões de um agente da CIA que participou na operação de introduzir a febre porcina na ilha”. “'A joia da coroa' destes documentos é a possível vinculação aos serviços de inteligência dos EUA do único assassino detido após o atentado contra JFK. O ex-militar norte-americano Lee H. Oswald visitou a embaixada de Cuba no México solicitando visto pouco antes do magnicídio. Se se confirma que era agente da CIA ficaria em evidência o intento de vincular Havana aos disparos de Dallas.” (…) “Num dos documentos desclassificados revela-se que os membros da Comissão Warren, que investigava o assassinato, preguntaram ao subdiretor da CIA, David Bellin, se Lee Harvey Oswald era um agente dessa agência de inteligência. A pergunta fica sem resposta porque está escrita noutros documentos que permanecerão escondidos da opinião pública um quarto de século mais.” [6].

Recorde-se que “a 17 de abril de 1961, depois de uma série de ataques e atentados de forças contrarrevolucionárias armadas pelos EUA nos meses anteriores, 1500 cubanos treinados pela CIA invadiram a ilha, na operação que ficou conhecida pelo nome de “Baía dos Porcos”. O desembarque foi precedido de bombardeamentos de aviões norte-americanos pintados com as cores da força aérea cubana. Junto às praias, centenas de milicianos cubanos, comandados por Fidel Castro, esperavam os invasores. A maioria dos expedicionários da CIA foram capturados ou mortos. O executivo de Kennedy, depois de exposto o seu envolvimento em termos internacionais, recuou em atacar diretamente a ilha com o exército norte-americano” [7]. O presidente Kennedy teria sido decisivo ao opor-se ao envolvimento militar direto norte-americano no apoio aos invasores da Baía dos Porcos solicitado por entidades influentes. “A 3 de fevereiro de 1962, o presidente norte-americano Kennedy ordena o bloqueio económico à ilha que se mantém até aos dias de hoje”, faz agora 61 anos.

Lembremos que o irmão de JFK, Robert Kennedy, foi assassinado por sua vez a 5 de junho de 1968 no hotel Ambassador, em Los Angeles. O crime foi atribuído a “Sirhan Sirhan, então com 24 anos, que viria a alegar mais tarde que não se recordava do que acontecera naquela noite, pois estaria drogado. No entanto, durante o seu julgamento, em 1969, confessou o crime. Foi condenado à morte e, ao recorrer da sentença, voltou a negar ter sido o autor dos disparos. Uma das perguntas que nunca teve resposta poderia ter-lhe dado a liberdade: porque se ouvem 13 tiros nas gravações daquele momento se a pistola de Sirhan só tinha capacidade para oito balas? A dúvida não foi considerada suficientemente forte pelo tribunal. Contudo, como a Califórnia aboliu a pena capital em 1972, a sentença de Sirhan foi alterada para prisão perpétua.” Robert Kennedy, ex-Procurador-Geral dos EUA e irmão mais novo do malogrado JFK, acabara de vencer as primárias democratas, e anunciara a sua candidatura à Presidência dos EUA com um discurso que ficaria para a história: "Martin Luther King foi assassinado, assim como meu irmão. E cabe a nós, os que ficámos, lutar pela causa pela qual eles sacrificaram suas vidas: a justiça e a igualdade entre os homens." [8]

Voltemos ao livro de James W. Douglass, “JFK e o indizível”. Ao procurar o livro na Bertrand encontraram-se vários livros do autor em inglês mas não o procurado. Na FNAC foi encontrada apenas a versão em inglês "JFK and the unspeakable" "Why He Died and Why It Matters", (Ref. ISBN 9781439193884), Touchstone Books, edição de 2010. Na editora de livros digitais Kobo.com encontrou-se a versão em inglês à qual leitores atribuíram a classificação máxima (5 estrelas) e a correspondente versão em francês "JFK & l'indicible" (Éditions Demi-Lune, 2013). Acedendo à amostra do e-book observámos entre vários elogios ao livro, o do realizador do filme “JFK”, Oliver Stone: “A melhor exposição que li sobre esta tragédia e suas consequências (…) Mas não acreditem em palavras: leiam este livro extraordinário e tirem vós próprios as conclusões.”

No prefácio datado de 29 de Julho de 2007, James W. Douglass, informa que graças aos trabalhos de numerosos investigadores, ao testemunho de centenas de pessoas e à desclassificação de uma grande quantidade de documentos em 1992, a verdade pode ser conhecida assim como as motivações do crime. O objetivo do livro é dizer porquê o presidente Kennedy foi eliminado. Kennedy, segundo o autor, tinha-se desviado da retórica da guerra fria para se comprometer com a via da paz procurando o diálogo com o inimigo para se alcançar o desarmamento. “Foi assassinado por um poder que não podemos nomear, nem descrever precisamente. A existência desse poder, indizível, pode ser demonstrada, apreendida, e meditada.” “Um dos objetivos do livro é descrever o percurso de Kennedy e a sua mutação em favor da paz”. “As forças que ele combateu estão continuamente aí e mais do que nunca ativas, hoje. A guerra fria deu lugar à «guerra contra o terror» (…) e hoje como ontem o inimigo é apresentado como o mal absoluto.” “Ataques preventivos, mudanças de governos, assassinatos, prisões arbitrárias, tortura – todos os meios são bons para «preservar» pretensamente a nossa segurança.” “As nossas reticências em reconhecer a realidade sobre a morte de JFK enraízam-se no receio do que ela implica. Mas se não tivermos vontade de nos confrontarmos com a realidade, quais são as possibilidades de nos libertarmos da ideologia belicista dominante?”

John_Kennedy,_Nikita_Khrushchev_1961.jpg

John Kennedy e Nikita Khrushchev em Viena1961.

<https://pt.wikipedia.org/wiki/John_F._Kennedy>

Na introdução do livro, o “escritor, militante pacifista e teólogo católico americano” James W. Douglass recorda a crise dos misseis soviéticos em Cuba no ano de 1962 – agora frequentemente evocada a propósito da guerra na Ucrânia –, em que o mundo esteve à beira de uma guerra nuclear e na qual Kennedy resistiu às pressões que o incitavam a ordenar um ataque preventivo. Perante o perigo de guerra nuclear o autor cita o “escritor católico, monge trapista, poetaativista social e estudioso de religiões comparadas” Thomas Merton (1915-1968) que escreveu qualquer coisa como: “Não vos julgais melhores que os rotineiros comandantes de campos da morte nazis porque queimais amigos e inimigos com mísseis de longo alcance sem que nunca vísseis o que fizestes”. “John F. Kennedy teve um percurso inacabado e contraditório para a paz. Fazendo-o – como sucedeu também com Malcom X, Martin Luther King e Robert Kennedy – entrou em conflito mortal com o indizível.”

Aquando do atentado mortal contra John Kennedy, os EUA estavam envolvidos, como é sabido, diretamente na guerra do Vietname – que se tornou a guerra mais longa do século XX e só terminaria com a queda de Saigão em 30 de Abril de 1975. A amostra do livro digital de James W. Douglass inclui uma Cronologia da qual queremos destacar apenas as seguintes ocorrências:

Dia 21 de novembro de 1963, na véspera de ser assassinado, antes de partir no seu voo para o Texas, e depois de ter tomado conhecimento das últimas baixas americanas na guerra do Vietname, Kennedy confiou a Malcolm Kildduff, assistente de imprensa na Casa Branca: «No meu regresso do Texas, isto vai mudar. O Vietname não merece nem mais uma vida americana».

Dia 23 de novembro de 1963, no dia seguinte ao assassinato, durante a tarde, o recém-empossado presidente Lyndon Baines Johnson encontra o embaixador Lodge, de regresso ao Vietname, e diz-lhe: «Eu não perderei o Vietname. Não serei o presidente que verá o Sudeste da Ásia seguir o exemplo da China».

Mas o melhor, podendo, será lermos o livro.

Notas:

[1] Rede Voltaire, 16 de Maio de 2023, <https://www.voltairenet.org/article219310.html>

[2] Cf. Pedro Cordeiro, JFK, mais uma vez (e sempre...), "Expresso", 08.04.2017 às 23h00, <http://expresso.sapo.pt/cultura/2017-04-08-JFK-mais-uma-vez--e-sempre.->

[3] JFK (filme) (<https://pt.wikipedia.org/wiki/JFK_(filme)>

[4] <https://pt.wikipedia.org/wiki/Abraham_Zapruder>

[5] “Trump mantem em segredo 300 documentos sobre assassínio de J. F. Kennedy”, "DN", 27 de outubro de 2017 00:02,

<https://www.dn.pt/mundo/interior/trump-mantem-em-segredo-300-documentos-sobre-assassinio-de-jf-kennedy-8875676.html>  

[6] Fernando Ravsberg, La investigación del asesinato de Kennedy revela planes de la CIA contra Cuba. Uno de los documentos, desclasificados en su totalidad, explica que la CIA planeó sabotear la producción agrícola cubana “mediante la introducción de agentes biológicos que parezcan ser de origen natural” ”,  “Público”, 03/11/2017, <http://www.publico.es/internacional/investigacion-asesinato-kennedy-revela-planes-cia-cuba.html>

[7] Nuno Ramos de Almeida, "David contra Golias", Jornal "i", 4 de dezembro 2016, <http://sol.sapo.pt/artigo/537333/david-contra-golias->

[8] Patrícia Fonseca, “50 anos depois subsiste a dúvida: quem matou Bob Kennedy?”, “Visão”, 06.06.2018, <http://visao.sapo.pt/actualidade/mundo/2018-06-06-50-anos-depois-subsiste-a-duvida-quem-matou-Bob-Kennedy->

16
Mai23

Aveiro – Berço da Liberdade

José da Praia

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Monumento defronte da sede do Clube dos Galitos «À memória dos Aveirenses que soffreram pela Liberdade»

Foi o início de uma etapa importante na evolução do País que deixou marcas inesquecíveis em Aveiro. “Cidade mártir de sangue e lágrimas” chamou justamente a Aveiro Jaime Cortesão (1). Marques Gomes deu-lhe o cognome de “Berço da Liberdade” (2).

Desvanecidas as dúvidas quanto ao rumo absolutista imposto ao país, após a dissolução da câmara dos deputados em 13 de Março de 1828, anulando a Carta Constitucional, “constituiu-se, logo, na cidade de Aveiro, um foco de uma luz liberal”. Aqui foi planeado, e iniciado na manhã de 16 de Maio de 1828, “no meio de grande entusiasmo”, o “movimento em prol da liberdade”, extensivo ao Porto, para onde se dirigiu. Face ao poder das forças absolutistas e à retirada das forças liberais para a Galiza – com Joaquim José de Queiroz, José Estêvão, Mendes Leite, etc. – e depois para a Inglaterra, a seguir para a ilha Terceira, até ao desembarque a sul do Mindelo em 8-7-1832 e à vitória final em 1834, ocorreram “as perseguições, os homíseos, as prisões e as forcas, a que se seguira mais tarde as batalhas e as vitórias, e afinal o triunfo da liberdade.” (2) Como disse José Estêvão: “a Carta foi baptizada num rio de sangue”. O 16 de Maio de 1828 recorda, pois, também, os mortos e os feridos, os horrores da tirania e os mártires, nomeadamente: Francisco Manuel Gravito de Veiga e Lima, Manuel Luiz Nogueira, Clemente de Melo Soares de Freitas, Francisco Silvério de Carvalho Magalhães Serrão, enforcados e decepados em 7 de Maio de 1829, e ainda Clemente de Morais Sarmento e João Henriques Ferreira, em 9 de Outubro do mesmo ano. Recorda as suas cabeças cruelmente expostas, espetadas em postes. E Aveiro, com casas de janelas e portas fechadas, de luto. Lembra também, após a vitória, a abolição da pena de morte por crimes políticos, em 1852, por proposta de Mendes Leite, deputado por Aveiro.

Um século depois, em 16 de Maio de 1928, dia das Festas da Cidade, feriado municipal, mas em regime de ditadura, com a censura à imprensa a vigorar há já quase dois anos (4) (5), o Povo de Aveiro, com Homem Cristo, Lourenço Peixinho, Luís de Magalhães, Alberto Souto, Magalhães Lima, etc., comemorou o centenário do 16 de Maio de modo especialmente significativo. Prestando homenagem àqueles que arriscaram a vida e aos que a perderam pela liberdade exprimiam também, certamente, em condições adversas, inquietação perante a situação existente. Houve sessão solene no Teatro Aveirense. Romagem cívica ao cemitério, “com a polícia a acompanhar o cortejo”. Discursos de Homem Cristo, Melo Freitas (“pelas famílias das vítimas”), Vitorino Nemésio, etc. O clube Recreio Artístico colocou lápide na base de monumento a José Estêvão. No dia seguinte, foi colocada, na Avenida, a primeira pedra de “monumento à Liberdade” (3). Mas apesar da grandiosidade das manifestações e do apoio popular, a força da ditadura venceu. A censura à imprensa reforçou-se e manteve-se durante quase meio século. O feriado municipal do 16 de Maio, comemorativo do movimento em prol da liberdade, foi substituído por um feriado religioso. E, oficialmente, o 16 de Maio foi sendo censurado, ocultado, esquecido. E por aí adiante.

Após o 25 de Abril de 1974, presume-se que em 16 de Maio de 1974, a Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Aveiro presidida pelo Dr. Flávio Sardo, promoveu a instalação – no passeio central da Avenida Lourenço Peixinho, no cruzamento com as ruas Alberto Souto e Silvério Pereira da Silva – de uma lápide “À Liberdade” com duas datas: a primeira “16-5-1928”, a segunda, “16-5-1974”. Essa pedra recorda, pois, também, o 25 de Abril, sem o qual não existiria. Foi restaurado então o feriado cívico municipal do 16 de Maio, que, no entanto, voltou, depois, outra vez, em 1978, a ser alterado.

Devido a modificações no passeio central da Avenida Lourenço Peixinho, a lápide à Liberdade datada de 16/5/1974 foi deslocada e situava-se ultimamente em separador central ajardinado na proximidade do edifício da Assembleia Municipal de Aveiro, como a fotografia seguinte documenta, onde a Câmara Municipal de Aveiro, colocava flores no 25 de Abril ou em 16 de Maio.

lapide-DSCN0079.JPG

Com as obras recentes que a atual Câmara Municipal promoveu ao longo da Avenida Lourenço Peixinho, desde a Praça Humberto Delgado até à Rua Luís Gomes de Carvalho, a lápide foi retirada. E concluídas as obras ainda não voltou ainda a aparecer.

Esperamos que a lápide com a inscrição “À Liberdade / 16 de Maio de 1928 / 16 de Maio de 1974”, de reduzido valor material mas importante valor simbólico – «é um marco da história de Aveiro e do próprio País» – seja recuperada, beneficiada e colocada em local condigno.

Como irá Aveiro celebrar, daqui a cinco anos, o bicentenário do movimento libertador de 16 de Maio de 1828?

Notas:

(1) Jaime Cortesão, “16 de Maio de 1828”, Conferência em Aveiro em 1956, Separata da Revista “Aveiro e o seu Distrito”, 1976-1977.

(2) Marques Gomes, “Aveiro / Berço da Liberdade / A Revolução de 16 de Maio de 1828”, Aveiro, 1928.

(3) João Evangelista de Campos, “Achegas para a Historiografia Aveirense”, Aveiro, 1988.

(4) «A 24 desse mês [de Junho de 1926] os jornais começavam a exibir a indicação de que tinham sido visados pela Censura. A liberdade de imprensa reconquistou-se em 25 de Abril de 1974.», Graça Franco, “Tempo de Coniventes Sem Cadastro”, “Público”, 18/10/2004.

(5) «Em Julho de 1926, David Ferreira vê um seu texto ser proibido pela Comissão de Censura. É o primeiro a que a “Seara Nova” é sujeita, sujeição que a tentará calar durante 48 anos.», Rogério Fernandes, “A revista de Proença e Sérgio “Seara Nova” faz 69 anos”, “Público”, 15-10-1990.

(6) Moraes Sarmento, “Será desta!...”, “Litoral”, 03/04/1997

 

09
Mai23

O caso Julian Assange

José da Praia

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Fonte: Página/12

O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, pediu em Londres, numa conferência de imprensa no dia 7 do mês corrente segundo informou o jornal digital espanhol “Público” a libertação do jornalista australiano Julian Assange que aguarda, há quatro anos, na prisão londrina de máxima segurança de Belmarsh, a decisão do seu processo de extradição para os EUA.

Recorda-se que prestigiados jornais internacionais designadamente o Guardian, Le Monde, New York Times, Der Spiegel revelaram em 2010, documentos classificados importantes disponibilizados pela organização WikiLeaks, associada a Julian Assange, designadamente sobre o Afeganistão, o Iraque, a prisão de Guantánamo, etc. 

Recorda-se também que Julian Assange, submetido inicialmente a litígios judiciais na Suécia, obteve asilo político em 2012 na embaixada londrina do Equador durante a presidência de Rafael Correia e depois, em 2019, com outro presidente, foi-lhe retirada a nacionalidade equatoriana que adquirira e expulso da embaixada, sem qualquer garantia, para ser preso logo de seguida pelas autoridades britânicas.

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Os regimes de isolamento a que Assange tem sido submetido em Londres na prisão de Belmarsh foram classificados como uma “tortura” pelo relator da ONU contra a Tortura, o suíço Nils Melzer que visitou Assange na prisão, acompanhado por dois médicos especializados, em maio de 2019. Nils Melzer que fala correntemente sueco (é filho de mãe sueca), ficou também estupefacto com os abusos de procedimentos legais que teriam sido cometidos anteriormente na Suécia para deter uma pessoa sem motivo de acusação. Nils Melzer, que considerou Julian Assange um preso político, publicou sobre o dossier Assange o livro The Trial of Julian Assange - A Story of Persecution” (“O Processo de Julian Assange – Uma História de Perseguição”).

Por sua vez o presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, depois de ter enviado uma carta sobre o assunto ao presidente Joe Biden, declarou que Assange «não cometeu nenhum crime grave, não causou a morte de ninguém, não violou nenhum direito humano. Exerceu a sua liberdade, e prendê-lo seria uma afronta permanente à liberdade de expressão».

Foram certamente relevantes, ainda que obtidas de modo menos curial, as informações que o jornalista Julian Assange tornou públicas. Não se deve porém condenar o mensageiro pelas mensagens que transmite.

03
Mai23

mais pensamentos

recolhidos por Rosa Pinho

José da Praia

Socrates- A morte de Socrates.jpg

A morte de Sócrates 

(The Death of Socrates)

Jacques Louis David

“David toma uma série de liberdades históricas em sua pintura: o próprio Sócrates é retratado como mais jovem e mais idealizado, enquanto Platão, resignado como um homem velho aos pés, era um jovem na época e não estava presente na execução. Kriton se senta na frente do sofá, sua mão na coxa de Sócrates.”

(https://www.meisterdrucke.pt/impressoes-artisticas-sofisticadas/Jacques-Louis-David/16452/A-morte-de-S%C3%B3crates.html)

Sócrates – "Se prometessem perdoar-me desta vez na condição de eu não voltar a dizer o que penso... dir-vos-ia: ‘Homens de Atenas, devo obedecer aos deuses e não a vós’".

Voltaire – "Detesto o que escreve, mas daria a minha vida para que o senhor possa continuar a escrever.”

Friedrich Nietzsche – "Não morreríamos na fogueira por causa das nossas opiniões: não estamos suficientemente seguros delas para isso. Mas talvez pelo direito de as termos e de as mudarmos."

George Orwell – "Se a liberdade significa alguma coisa será sobretudo o direito de dizer às outras pessoas o que elas não querem ouvir."

Timothy Garton Ash – "Hoje, a maior fonte de não-liberdade no mundo é a pobreza. Povos que sejam realmente pobres não podem ser realmente livres. Mesmo que teoricamente tenham essa liberdade..."

 

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